Há uma historicidade e uma demarcação do conceito de “disciplina”. Mas o questionamento que se faz é: qual o
objetivo da organização dos conhecimentos em disciplinas ao longo da história? Por que historicamente decidimos organizar os conhecimentos em disciplinas com o objetivo de educar os seres humanos? Esses questionamentos nos ajudam a compreender a lógica da tentativa de formação educacional humana ao longo da história. Essa compreensão emerge na modernidade, especialmente na segunda metade do século XIX, com a fragmentação do conhecimento que tinha como base teórica a epistemologia positivista, racionalista, empirista, naturalista e mecanicista. Filósofos e cientistas como Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton e Charles Darwin contribuíram para fundamentar as especialidades do conhecimento que ajudariam a uma melhor compreensão dos fenômenos naturais e humanos. Mas a pergunta que nós
educadores fazemos é: as compreensões fragmentárias dos objetos/sujeitos nos ajudam a compreender a
complexidade do real, das inter-relações humanas? Os desafios ainda presentes nos processos de ensino aprendizagem têm nos mostrado que os caminhos da fragmentação podem e nos levam aos labirintos
tortuosos e sem saídas, alargando mais ainda a hierarquia entre sujeitos e objetos do conhecimento.
Diante desse legado histórico e epistemológico da modernidade que reverberou nos processos educativos,
vários desafios atuais no âmbito dos processos de ensino/aprendizagem vicejaram e impulsionaram os
docentes/pesquisadores às reflexões sobre a sua prática no cotidiano escolar. Indagações como estas são
comuns: Como proceder no dia a dia escolar para que o(a)s estudantes compreendam os conhecimentos de
uma maneira integral, uma vez que a realidade é complexa e dialética? Como desenvolver metodologias de
ensino/aprendizagem resgatando as inter-relações e diálogos entre os conhecimentos? Essas são perguntas
que pulsam nas mentes dos educadores ao iniciarem seus processos de pesquisa visando um novo fazer
educacional. Vários autores como por exemplo Michel Gibbons(1997), Gadotti (2004), Frigotto (1995), Edgar Morin
(2005), Goldman(1979), Japiassu (1976) e Fazenda(1979) têm refletido sobre como a interdisciplinariedade pode
contribuir na recuperação da unidade do conhecimento humano, saindo de uma visão solipsista centrada no
“eu” para uma visão intersubjetiva recuperando, assim, a ideia primeira de Cultura, isto é, a ideia de uma
formação humana integral.

A partir dessa urgência de educarmos nosso “olhar”, nosso “compreender” e nosso “fazer” é que as pesquisas
publicizadas nessa edição nos desafiam à reflexão e à mudança de paradigma. Os leitores terão a oportunidade
de conhecer alguns dos múltiplos caminhos da interdisciplinaridade, os quais visam o fim que é o ensino/aprendizado libertador e transformador do(a)s estudantes e educadores das escolas cearenses.

Publicado: 02/12/2022

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